ICNB, instituto do quê?

Tinha planeado um assunto diferente para este “ensaio” mas dado o absurdo da situação foi inevitável a direcção a tomar. Então não é que os senhores e senhoras do ICN (perdão acrescentem o B ao acrónimo, apesar de já não ter a certeza de que significa Biodiversidade…) que nos seus confortáveis gabinetes enquanto assinam uns documentos e fazem “conservação da natureza”, acharam boa ideia tapar os furos orçamentais cobrando ao cidadão Português pela prática fotográfica (que serve invariavelmente para a promoção das mesmas, e gratuitamente…) nas áreas com estatuto de conservação, quer seja ela amadora, profissional ou quando a família faz uns bonecos para mais tarde recordar… Mas esperem ainda há mais, a orla marítima está incluída e fora das áreas protegidas o ICNB também pode cobrar pela prática fotográfica. Será que a foto que acompanha este texto tirada da janela do meu quarto, retratando a serra do Alvão, vai ser taxada pelo ICNB? É que a julgar pela tabela de preços, parece-me que vou entrar em despesa. Ah e já agora, se estiverem a pensar em dar um saltinho este fim-de-semana a uma área protegida vá prevenido, é que vai ter que pagar pela circulação nessa área. Isto levanta uma série de questões de ordem moral, ética e social, não sei quanto a vocês mas eu estou a sentir que os meus direitos e liberdades estão a ser postos em causa.
Mas a esta questão eleva-se uma outra, afinal o que é a conservação da natureza e que propósito serve quando nos excluímos da equação? É que a julgar por esta decisão os recursos que nestas áreas se pretendem conservar (o que quer que isso significa) são para o usufruto de apenas alguns. Desengane-se quem pensa que conservar é o mesmo que preservar, esse conceito “lineano” é um absurdo tão grande como querer estagnar o movimento de rotação do nosso planeta.
A conservação não pode ser efectuada de modo a estagnar os processos e a dinâmica dos ecossistemas, estes são por natureza mutáveis e é surrealista desejarmos preservar fenómenos e espécies que são dinâmicos e estão em constante evolução.
Verifica-se hoje que a relação próxima e fechada que existiu durante milénios entre os ecossistemas, a comunidade que a habita e deles subsiste, e as actividades que essa comunidade desenvolve, marcou cada uma das partes mas deixou de ser funcional nos dias de hoje, estando o êxodo rural a atingir valores alarmantes todos os anos. As relações funcionais do passado definem o peso da história, deixando marcas mas ao mesmo tempo diluindo-se numa outra realidade.
Cada ecossistema deixa de ser exclusivamente relevante para a comunidade que nela vive ou viveu, passa a sê-lo, também para todos os seus outros utilizadores e aqueles que com estes se relacionam. Neste contexto, a visão de recurso natural fica intimamente relacionada com o conceito de multifuncionalidade da paisagem, porque dela se esperam várias funções pelos vários utilizadores. Desta forma, podemos interpretar sob diversas perspectivas as características e natureza dos recursos, o valor destes varia consoante estejamos a falar de uma espécie, de um conjunto de espécies, uma actividade ou serviço prestado pelos ecossistemas. Os paradigmas actuais de gestão dos ecossistemas (e por inerência, os recursos que estes facultam) centram-se na capacidade em combinar o respeito por uma herança do passado, com as transformações motivadas por funções que desaparecem, outras que se mantêm e novas que se definem.
Senhores administradores do nosso território natural, nós somos parte integrante das nossas áreas protegidas, se o objectivo é conservar então porque é que estão a potenciar o abandono destas áreas?!

Para quem estiver interessado em ler mais sobre esta politica do ICNB sugiro uma visita ao sítio do José Antunes, editor da fotodigital - http://www.joseantunes.com/

9 comentários:

Anónimo disse...

Ola Diogo. Excelente blog... Parabéns
A cerca das novas leis da ICNB eu concordo contigo ate um ponto. Sou a favor de taxas para actividades em terrenos visionados pela mesma. Mas não sou a favor destes preços absurdos... Seria mais a favor, cm acontece no UK, em que certas espécies são protegidas por lei para serem fotografadas.

Abraços

Diogo Carvalho disse...

Júlio, obrigado pelo comentário fico feliz que tenha gostado do blog!
De facto, uma politica mais próxima da praticada em Inglaterra ou mesmo no Estados Unidos (como acontece em Yellowstone, por exemplo) seria certamente mais ortodoxa para ser simpático. Sou adepto de um exímio ordenamento do espaço e das actividades, no entanto não consigo deixar de pensar que acho a taxação inimiga dos objectivos de conservação da natureza!
Abraço

Anónimo disse...

Viva, Diogo.

A ler este artigo parece de facto uma questão preocupante.
Vejo duas potenciais consequências...
Primeiro, o aumento da burocratização do parte desta entidade, já no outro blog explicaram que a lei é vaga.
Segundo, ao taxaram fotografias terá consequências neste tipo de mercado. Revistas e programas de natureza vão sofrer porque são obrigados a pagar mais pelas fotografias e os fotógrafos vêm-se obrigados a cobrar mais o que naturalmente irá resultar em portas a fechar-se, especialmente para quem é freelancer. Tudo porque agora há um intermediário...

Not cool...


Ass. C.

Diogo Carvalho disse...

E isto num mercado fechado, diminuto e regido por uma mentalidade, por parte dos clientes, que roça o total desprezo pelo trabalho dos profissionais da área.
Para além de vaga, já omitiram um documento que face à polémica tenta corrigir alguns pormenores. Entre eles trabalhos fotográficos sem fins comerciais não necessitam de taxação... No entanto eu pergunto-me, e se no futuro o actual "estatuto" de amador de um fotografo que tenha feito fotografia nas áreas protegidas, se alterar e este passa a obter rendimento desse seu trabalho, o ICNB vai taxar por essas fotos posteriormente? Como vão fazer tal coisa, vão seguir o percurso curricular de todos aqueles que fazem fotografia de natureza? Parece-me que mais uma vez o ICNB mete os pés pelas mãos.

Alan MacKenzie disse...

Hi there,

I reached your website via the Juza Forums, and I've spent time looking at your wonderful photographs here and on Flickr. You clearly have a strong technique and your choice of subjects is fascinating. The design of your website is attractive, too. Keep up the good work.

I've added your website to my links.

Best regards,

Alan.

Diogo Carvalho disse...

Hi Alan, your visit is very welcome, and I'm thrilled by your comments! Glad you liked naturimago, and I'm sorry for being written in Portuguese, in the beginning I planed to do a kind of bilingual (PT/EN) blog, but decided against it, because I felt that I wanted to capture the Portuguese audience only, because of the specific conservation content that I'll be posting here. Meanwhile you can follow my work at flickr and at the Juzaforum, and you can always try to use the google translation tools to figure out some text in naturimago!
I'll be following your work also, you seem to have a very composition driven photography style!

Best regards

Alan MacKenzie disse...

Hi Diogo,

It's always nice to converse with fellow nature and photography lovers.

You needn't apologise for writing your blog in Portuguese - I write mine in English. If Portuguese is your first language, by all means write in it.

I attempted to translate your site using Yahoo Babel Fish, but it was no good. I'll try the Google translation service.

I've never been consciously aware of my composition driven photographic style - you do have a point, now that you've mentioned it.

Global warming is a very great threat. I'm glad nature photographers are taking up the challenge. I'm pessimistic myself - I think the damage is done, although the human race will probably survive, but with millions of deaths and great hardship, except for the elites, of course. I think this is a realistic, not defeatist position.

In the meantime, I'll keep documenting nature as it is, and ensure my photographs provide a historical record for generations to come.

Kind regards,

Alan.

operte disse...

Como raio é que vão controlar toda a gente que fotografa em áreas protegidas?? Isso faz-me lembrar leis que há em algumas cidades (em Lisboa, por exemplo) onde só é possível fotografar com permissão do governo local... :|

Diogo Carvalho disse...

É o absurdo onde chegamos... Ainda maior quando pensamos que nesta recente reorganização do ICNB foram criados mais cargos administrativos do que pessoal de campo, vigilantes, etc... O que nos deixa a pensar, quem raio é que faz valer todas estas condicionantes e como é que se faz conservação com tanta gente enfiada nos gabinetes?!